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terça-feira, 28 de setembro de 2010

" Moço bem feito de rosto.
Olhos que brilham nos meus
Estrelas
Luz que se basta
e se alimenta
Luz que ilumina a minha lua."

( DOROTÉIA ÍRIS )

quinta-feira, 23 de setembro de 2010



" Enxugo sentimentos
a procura de mim.
Á noite, coração sai do peito.
Batucada louca
na claridade da Lua. "
( DOROTÉIA ÍRIS )
" Não me olhes com esses olhos graves
que carregam o mundo
Teus olhos distantes e indecifráveis...

Observas ao redor
Calas em ti o que possas mostrar
que te deixe nú.

Teus escudos..."

( DOROTÈIA ÍRIS )

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tu sais je vais t'aimer

" A vida não gosta de quem tem mêdo dela.
Eu já pisei no ar esperando que Deus colocasse embaixo
o fio de nylon, e acreditem! Ele sempre colocou...
É bom a gente desafiar os céus, as normas, as estatísticas,
tudo o que norteia este mundo tosco. É bom a gente inventar
um canto novo, um novo alfabeto, uma nova rota, ir abrindo
flores ao redor, aquarela nítida.
É tão bom poder ir e vir no tempo e ir rasgando a pele, rasgando
a planta do pé, o coração...
Mas, intacta e sempre, e cada vez mais luminosa e menina --
está sempre sempre sempre a alma..."

( BÁRBARA LIA -- poeta )


" O que me encanta em ti
É a tua delicadeza
Tudo interrompe na tua presença
Acalmas o vento
A música é imaginada
Os lugares se tornam como se fosse
a primeira vez."

( DOROTÉIA ÍRIS )

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As pálpebras queimantes do último relâmpago


" Não há nada que nos desoriente mais a memória do que
a inadvertência de querer retornar a algum ponto alcançado
no passado. Como o teimoso viajante traído por sua obsessão
de regressar a uma cidade cuja lembrança lhe seduz. Ou
aquele outro que teme reabrir as páginas dos livros lidos de onde
lhe socorrera o acaso a completar os versos de um poema. Jamais
encontraria ali a mesma imagem antes sugerida. A todo instante a
memória nos faz perguntas que sabe não poderemos precisar. As
viagens são todas elas um grande truque do tempo.

Há sempre algo que perdemos e que nos leva a memória, por onde
passamos. Um enigma que pode muito bem mostrar-nos um semblante
dolorido, mas que de alguma maneira aponta em outra direção. Não
importam as perdas que não convertemos em pedras preciosas. Não
adianta buscar a terceira sílaba da noite. Algo nos leva de uma parte
a outra. Há que escutar esses disparos mágicos do abismo.

As viagens não existem para um álbum de retratos. Tampouco os livros
nasceram para a construção de uma biblioteca na sala dos pais. Os amores
compreendem isto ao irem embora, despidos de todo ressentimento, quando
souberam beber as centelhas de cada instante vivido. As viagens nos fazem
ir do desejo ao deserto, e não nos trazem de volta para nenhum dos dois pontos,
de chegada ou partida, que a rigos se confundem."

( FLORIANO MARTINS -- poeta, ensaísta, tradutor e editor )

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O que me pertence


" O que é maior que eu
faz parte de mim.
A chuva cabe no mar
a areia no deserto. Sempre foi assim.

O que é maior que eu
abraço feito fosse Deus.
As coisas pequenas vazam.
Choro por elas, uma noite talvez.

No outro dia
sol clareia a alma.
Descubro o que é meu.

Para sempre. Os sonhos, as lembranças.
Nossos passos calmos na areia.
O riso dos meus filhos, isto me pertence."

( BÁRBARA LIA )
" Na tarde de sol
Quando o amor se esbarrou
Urgente de se derramar
Coisas reveladas encontradas
Rápidas intensas
Tudo se misturou num turbilhão

Na volta da linha reta do caminho
O cheiro leve de ti em mim. Marcado...
Bem que tento te esconder
Mas a cigana leu na minha mão
Falou do teu caminho no meu
E sei das cartas na manga
Das roupas todas verdes
E de coisas que são de nós dois."

( DOROTÉIA ÍRIS )

Louca

" Súbito
Em meio àquele escuro quarteirão fabril
Das minhas mãos escapou um pássaro maravilhoso
E eu te amei como quem solta um grito,
Ó Lua enorme
Incompreensível...
Por que sempre me espantas e me assustas, louca,
Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!"

( MÁRIO QUINTANA )
" Meu reino é o do silêncio,
mais do que todas as palavras
nele tudo pode ser dito
e desinventado: as entrelinhas
transbordam dos meus contornos.

Minha alma, guerreira ou mendiga,
incente menina ou bruxa perversa,
faz dessa teia de caos e luz uma viagem
com sempre um novo ponto de partida
e desenrola infinitamente o teu nome,
que é todos os nomes, e não é miragem:
VIDAMINHAVIDAMINHAVIDAMINHA
(e nunca mais ter que dizer adeus)"

( LYA LUFT -- escritora, poeta )
" Estendi cordas de campanário
a campanário
Guirlandas de janela
a janela
Correntes de ouro de estrela
a estrela
E danço."

(RIMBAUD )

" J'ai tendu des cordes de clocher
a clocher
Des guirlandes de fenêtre a
fenêtre
Des chaines d'or d'etoile a
etoile
Et je dance."

(RIMBAUD)

" As coisas estão interligadas
e as pessoas também.
A compreensão das coisas pelas pessoas
só vai acontecendo gradativamente com
o amadurecimento das idéias, e a sedimentação
de novos conhecimentos.
A vida e os acontecimentos são cíclicos. Eles
sempre retornam depois de uma volta às
vezes longa. E quando retornam, já vamos
estar mais preparados para vivê-los."

( Dorotéia Íris )

" Nesta hora de luz
apagando
Mudança de elenco e
cenário
Encontro-me só
Eu e eu de frente
Olho no olho

As pessoas dançam
à minha volta
sem rosto e mãos
Não encontro os teus sonhos
Me perco
Paralizo
O amanhã árido
abrasador adivinhado
sem tua presença."

( DOROTÈIA ÍRIS )
" Não sei no que existes em mim
no extremo de mim mesma.
És força impulsiva
que mexe com meus sonhos
Devaneios
Viajo em nós
Saboreio antecipadamente
o que talvez nunca provarei
As coisas borbulham em mim
como bolhas de champagnhe
O tempo é soberano
E passageiro..."

DOROTEIA ÍRIS


" Hoje me falta o ar

O amor me faz falta

Sei exatamente o vazio da saudade

Se espalha ao longo do dia

Dentro de mim.'


( DOROTÉIA ÍRIS )

domingo, 5 de setembro de 2010


" Por invejar a solidão

Da concha,

Da estrela,

Do sino ébrio...

Felicidade singular

De brilhos e estrondos

Mudei meu nome.



Como mão na luva,

Deslizei

Lerda e lenta

Para esta nova identidade:

Tem um calôr de Chá de Anis

Um pijama macio e quente --

Pantufas!

Tem Lua Lilás e Beethoven

E tem uma saudade.



Ah! Vedei as portas...

Não tente entrar sorrateiro

Como na noite branca,

Com a beleza de suas mãos e acordes."



( BÁRBARA LIA -- poeta )

sábado, 4 de setembro de 2010



"...Escrevo como as aves redigem seu voo:
sem papel, sem caligrafia, apenas com luz
e saudade. Palavras que, sendo minhas,
não moraram nunca em mim.
Escrevo sem ter nada que dizer. porque
não sei o que te dizer do que fomos. E
nada tenho para te dizer do que seremos.
[...]

Vês como fico pequena quando escrevo pra ti?
É por isso que eu nunca poderia ser poeta.
O poeta se engrandece perante a ausência,
como se a ausência fosse seu altar, e ele ficasse
maior que a palavra. No meu caso, não, a
ausência me deixa submersa, sem acesso a mim.

Este é o meu conflito: quando estás, não existo,
ignorada. Quando não estás, me desconheço,
ignorante. Eu só sou na tua presença. E só me
tenho na tua ausência. Agora eu sei. Sou apenas
um nome. Um nome que não se acende senão
em tua boca."

( trecho do livro " Antes de nascer o mundo "
de MIA COUTO -- poeta, escritor moçambicano )

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Verdes Versos

" Desconheço a ordenação dos anjos,
mas sei das cores nas fachadas das casas.

Na foto antiga, as casas já receberam
o insofismável tom trazido pela areia do tempo.
Naqueles olhos ausentes, que cruzaram desapercebidos
à falsa eternização do momento,
surpreendo o olhar humano.

Desconheço a verdade dos santos,
mas tenho aprendido sobre a mutilação do desejo."

( JORGE ELIAS NETO - escritor,poeta )

Sobre os poetas

" Então, quando voce me beijar
vai sentir o gosto da minha escrita,
pois a fim de nunca esquece-las
eu trago todas as minhas palavras
na ponta da língua."
(RITA APOENA)

Não há de quê


" Não há quem não feche os olhos ao comer,
não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita,
não há quem não feche os olhos ao beijar,
não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima,
no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar
a barca ao calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio.
Os cílios se mexem como pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.
Escrevo na água, no vento da água.
O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada.
Sem o corpo. Sem as folhas dos plátanos."

( trecho do texto " Não há de quê " de FABRÍCIO CARPINEJAR )
" Um dia o amor murmurou Ponte
e eu vi o poente de açucar ao lado
e o poeta que adoça as madrugadas
com água de colibri.
Um dia eu entendi que nem a poesia
narra o amor que é. E tudo se enovela:
amado, ponte, rio, beija-flores e madrugadas."

( Bárbara Lia - poeta )


quinta-feira, 2 de setembro de 2010


" Gosto dos venenos mais lentos,
das bebidas mais amargas,
das idéias mais insanas,
dos pensamentos mais complexos,
dos sentimentos mais fortes.
Voce pode até me empurrar de
um penhasco que eu vou dizer:
' E daí? Eu adoro voar!'
Não me deem fórmulas certas,
porque eu não espero acertar
sempre.
Não me mostrem o que esperam
de mim, porque vou seguir meu
coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade,
não sei viver de mentira,
não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu, mas com certeza
não serei a mesma para sempre."

( CLARICE LISPECTOR )

" Teu olhar faz a volta
Ao meu coração,
Uma roda de dança e de doçura,
Auréola do tempo, berço noturno e seguro,
E se não sei mais o que tenho vivido
É porque teus olhos nem sempre me enxergaram."
( PAUL ÉLUARD )


" Assim te quero:

sem posse

sem carimbos

paz de saber

que existes

e me preenches

p-l-e-n-a-m-e-n-t-e.


E o AMOR sorrindo

em uma nuvem de baunilha


E o amor sorri tão pouco

no mundo medroso

de entregas ao meio

de carne e superfície

de tolices


O amor senta-se tão pouco

na nuvem perfumada

na nuvem iluminada


E quando ele reune

duas pessoas consagradas

e elas se perdem

o amor chora espadas

em noite de lua vermelha."


(BÁRBARA LIA)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Para ti


" Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor de sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo um só olhar
amando de uma só vida."

( MIA COUTO -- escritor e poeta moçambicano )



As Sombras da Vinha

" Vou te acender
pedra com pedra.
Vou te acender,
cepa com cepa.
Vou te acender,
água com água.
Vou te acender,
sopro com sopro.
Em toda convergência,
vou te acender.
E para que eternamente
crepites, vou te acender
na divergência de tu-comigo."
(MARIA CARPI -- poeta )






" Uma noite de lua pálida e gerânios


ele viria com boca e mãos incríveis


tocar flauta no jardim.


Estou no começo do meu desespero

e só vejo dois caminhos:

ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo

o que não for natural como sangue e veias

descubro que estou chorando todo dia,

os cabelos entristecidos,

a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, porque é certo que vem,

de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?

A lua, os gerânios e ele serão os mesmos

-- só a mulher entre as coisas envelhece.

De que modo vou abrir a janela, se não for doida?

Como a fecharei, se não for santa? "

(ADÉLIA PRADO )


( para o menino dos olhos brilhantes )

" Contenho o estoque de céu
remetido pelo teu polém
menino vaga-lume
espelho excessivo
entrega amigável
mil maneiras de postar a sorte
no dobrar os joelhos da alma
que te cerca e ama
Sem endurecer a moleira do meu poema ateu
voce segue
experimentando cores,
respeitando invernos
adubando estrelas
curando os porões de toda a promessa...
Fiel, igual segredo de jasmineiro.

( ZENILDA LUA -- poeta )

Colecionador de Quimeras


" Quando as minhas angústias
começam a morder-me
ponho-lhes a trela
saio à rua a passeá-las
e deixo-as ladrar
ao tédio transeunte;
depois ponho-lhes asas
e deixo-as voar
como pássaros
em busca de primaveras
imprevisíveis."

( ANTONIO TOMÉ -- poeta moçambicano )
 
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