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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não há de quê


" Não há quem não feche os olhos ao comer,
não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita,
não há quem não feche os olhos ao beijar,
não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima,
no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar
a barca ao calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio.
Os cílios se mexem como pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.
Escrevo na água, no vento da água.
O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada.
Sem o corpo. Sem as folhas dos plátanos."

( trecho do texto " Não há de quê " de FABRÍCIO CARPINEJAR )

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