skip to main |
skip to sidebar
" Tenho roupas sóbrias
e a língua solta.
Calço meus pés
de estrelas, todas.
Minha palavra tomba
quando cerrada.
Estufo meu peito
de arbusto
e me recolho caule.
Tenho no coração
um fórceps de flores. "
DAVID COHEN
" Aos 15
me disseram que aos 30
estaria mais maduro e poeta.
Passados os anos
conto tostões e palavras.
Padeço de versos nublados
e cenho franzido.
Tenho tantas rugas
quanto os caminhos do pensamento.
O que não tenho mais é tempo
e nem faz tanta lua como antigamente. "
( DAVID COHEN )
" que uma brisa na retina
te ilumine dos meus quereres
que dos teus passos cresçam
nuvens
para eu me deitar sossegado
e que tudo flua feito canto
desavisado "
( ASSIS FREITAS )
JANELA SOBRE A PALAVRA / 1
Magda Lemonnier recorta palavras nos jornais,
palavras de tod0s os tamanhos, e as guarda em caixas.
Numa caixa vermelha guarda as palavras furiosas.
Numa verde, as palavras amantes. Em caixa azul,
as neutras. Numa caixa amarela, as tristes. Em uma
caixa transparente guarda as palavras que têm magia.
Ás vezes, ela abre e vira as caixas sobre a mesa, para
que as palavras se misturem do jeito que quizerem.
Então, as palavras contam pra Magda o que acontece e
anunciam o que acontecerá.
( Trecho do livro MULHERES - de EDUARDO GALEANO)
(pg. 163)
A CASA DAS PALAVRAS
Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra,
chegavam os poetas. As palavras, guardadas em
velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas
e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas:
elas rogavam aos poetas que as olhassem, as
cheirassem, as tocassem, as provassem.
Os poetas abriam os frascos, provavam palavras
com o dedo e então lambiam os lábios ou fechavam
a cara. Os poetas andavam em busca de palavras
que não conheciam, e também buscavam palavras
que conheciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores.
Em grandes travessas as cores eram oferecidas e
cada poeta se servia da cor que estava precisando:
amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça,
vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...
( Trecho do livro MULHERES de Eduardo Galeano )
(pg. 168)