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quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Despedideira

" Há mulheres que querem
que o seu homem seja o sol.
O meu quero-o nuvem.
Há mulheres que falam na voz
do seu homem. O meu que seja
calado e eu, nele, guarde meus silêncios.
Para que ele seja a minha voz
quando Deus me pedir as contas.
No resto, quero que tenha mêdo
e me deixe ser mulher, mesmo que
nem sempre sua.
Que ele seja homem em breves doses.
Que exista em marés, no ciclo das águas
e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher,
tanto quanto eu.
As suas mãos as quero firmes
quando me despir. Mas, ainda mais, quero que
ele me saiba vestir como se eu mesma me vestisse
e ele fosse a mão da minha vaidade."

(trecho do livro de MIA COUTO -- escritor mocambicano )

terça-feira, 20 de julho de 2010

" Deixo meu violão
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022."


( Bárbara Lia -- poeta que possui mãos de abrir nuvens e
alma de suspirar )

" Tem uma torneira vazando
enlouquecendo em azul
a noite.
Cai em rítmo de segundos,
tatua o tempo em estilhaços líquidos."
( Bárbara Lia - poema publicado em uma antologia especial
chamada H2 HORAS -- resultado final de uma mobilização
literária do Portal Cronópios )
" De um único modo se pode dizer a alguém:
' não esqueço voce'.
A corda do violoncelo fica vibrando sózinha
sob um arco invisível
E os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo porque bate
e tem sangue nele
e vai parar um dia.
E vira tambor patético
se falas ao meu ouvido:
' não esqueço voce '.
Manchas de luz na parêde,
uma jarra pequena com tres rosas
de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
E a morte é amor."

( Adélia Prado )

Para o poeta dos cabelos de nuvem


( foto de Floriano Martins )

" Ó Homem Pássaro...
Sorrio enternecida das tuas incursões e movimentos
que te sugam e te arremessam.
Que me comove todas as vezes...
Os teus olhos, tuas janelas,
por onde se pode ver O de dentro.
O teu deserto de perguntas que nunca cessam,
se misturam com meus desertos, que são muitos.
quem te contou no ouvido o segrêdo?
Esse corpo negro, vindo do céu,
anos luz, em nossa direção.
O vazio negro que vai varrer tudo...
Essa tua percepção-sentimento, do que também sei,
de algum lugar em mim.
Me pergunta.
Te falo.
A direção 'A' inconsciente-consciente.

Agora me diz.
Não! Eu te digo:
'As pessoas vivem sem se preocupar com nada".

(Dorotéia Íris - Conversa solitária sobre leituras coincidentes )




O que te mostro

" Só sei ser as coisas que sinto
Talvez seja esse o meu lado real
O meu melhor
O lado que faz com que as palavras
Brotem como um olho de água

Esse lado vive me pregando peças
Montando cenários
Vendo arco-íris no temporal
Me deixando lúcida e pronta

E já não morro de tristeza
Sou desdobrável..."

( Dorotéia Íris )

Para Ler de manhã e à noite


" Aquele que amo
disse-me
que precisa de mim
por isso
cuido de mim
olho o meu caminho
e receio ser morta
por uma só gota de chuva."
( BERTOLD BRECHT )

Outrora

" Lembrei de junho passado

Lembrei de nós

Conversas claras, Clarice

Por não estarmos distraidos

Nos confundimos



Lembrei das ruas ao teu lado

Coração apressado

Correria louca

Te sentindo perto, leve

Riso solto dentro de mim

Proximidade

Energia solta no ar

Que nada nunca terminasse

O tempo de estar contigo

Não acabasse de começar



Por não estarmos distraidos

Voltei misturada de ti

Na tarde de Junho

Sentimentos avulsos

Palavras soltas que saiam

Sem que meus lábios soletrassem

Em sorrisos

Os olhos brilhando "

( Dorotéia Íris )


" Magenta -- a cor da idade

textura de fogo e o não medo de tudo

que a vida tenta fazer descer pela goela.

Não sou o desenho borrado esboçado

pelos que não entenderam a minha alma bárbara.

Ninguém caminhou com minhas sandálias,

bebeu a água amarga das feridas dos inimigos.

Pensar que teus olhos verão por outros olhos

que sou -- é o que me dói mais.

Pensar que é preciso ir mesmo viver na casa do sol.

Jamais mostrar a roupa da bailarina,

o coração pétala rasurado sangrando o néctar da saudade.

Tua imagem nítida, na madrugada, na noite, na neblina.

Amo o teu coração com tanta verdade que arde.

Escrevo tua ausência, em noites claras.

Se tu lesses.

Ah! Se lesses!

Quem sabe as portas do escárnio diluiriam

como estátuas de sal."

( Poesia de Bárbara Lia -- poeta de delicadezas )

 
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