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sábado, 4 de setembro de 2010



"...Escrevo como as aves redigem seu voo:
sem papel, sem caligrafia, apenas com luz
e saudade. Palavras que, sendo minhas,
não moraram nunca em mim.
Escrevo sem ter nada que dizer. porque
não sei o que te dizer do que fomos. E
nada tenho para te dizer do que seremos.
[...]

Vês como fico pequena quando escrevo pra ti?
É por isso que eu nunca poderia ser poeta.
O poeta se engrandece perante a ausência,
como se a ausência fosse seu altar, e ele ficasse
maior que a palavra. No meu caso, não, a
ausência me deixa submersa, sem acesso a mim.

Este é o meu conflito: quando estás, não existo,
ignorada. Quando não estás, me desconheço,
ignorante. Eu só sou na tua presença. E só me
tenho na tua ausência. Agora eu sei. Sou apenas
um nome. Um nome que não se acende senão
em tua boca."

( trecho do livro " Antes de nascer o mundo "
de MIA COUTO -- poeta, escritor moçambicano )

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